1 – NÃO EXISTE PROCESSO DIFÍCIL; EXISTE PROCESSO
MAL LIDO. Assim, se vc está encontrando dificuldades, não consegue achar a
solução, compreender a causa ou vislumbrar uma solução: pare, respire, faça
outro processo, e depois volte ao processo “difícil”. Releia com calma e verá
que, dentro dele, havia uma solução – seja processual (no mais das vezes), seja
de ordem material (algum documento, um depoimento, uma contradição).
2 – OS PROCESSOS SÃO COMO COBRAS: AS GRANDES DÃO
MEDO, MAS SURUCUCU NÃO TEM VENENO PODEROSO. JÁ AS PEQUENAS, COMO AS CORAIS,
MATAM. Logo, não tenha medo de processos volumosos: no mais das vezes, é tudo
“barulho de folha”, ou seja, são páginas e páginas inúteis, com documentos
repetidos ou sem necessidade. Já os pequenos podem ser cruéis: trazem
rapidamente a tese, a antítese e pedem sua síntese.
3 – MAGISTRATURA É MEIO DE VIDA, NÃO É MEIO DE
MORTE. Assim, nunca deixe de descansar, seja assistindo TV, lendo um livro
não-jurídico, jogando videogame, praticando esporte (ou alguma dança) ou
fazendo algo mais gostosinho, mas impublicável aqui.
4 – EM DIREITO, TUDO DEPENDE. Não adianta firmar
posições, ser inflexível ou acatar apenas uma doutrina. A Vida é dinâmica, e a
solução de um caso nem sempre se adequa ao caso semelhante. Isso é equidade e
para isso vc, juiz, existe. Por isso, não tema reconsiderar, retratar-se ou, em
audiência, chamar “conclusos” para verificar melhor a solução do caso.
5 – PROCESSO É INSTRUMENTO, não é fim em si mesmo.
A menos que o erro seja escancarado, criador de uma estrovenga jurídica, busque
solucionar o caso por meio das regras de direito material e probatório. Meio
adequado é como roupa: às vezes dá para ajustar num corpo imperfeito.
6 – A JUSTIÇA É MAIS IMPORTANTE QUE A COMPAIXÃO.
Toda vez que você se compadece e age por dó, você acaba fazendo justiça com o
chapéu alheio, isto é, fazendo caridade com o direito da outra parte.
7 – NÃO SEJA MELINDROSO. Quem faz Justiça não deve
ter melindres e arroubos de vaidade. Todo mundo tem seu espaço ao Sol, e o
tempo de eventual reconhecimento nunca é agora. Só dá para analisar um pintor
depois do quadro pintado; um escritor, depois do livro escrito. Um Juiz, depois
de concluída a carreira.
8 – TRATE BEM A TODOS: partes, advogados,
auxiliares do Juízo, servidores, defensores públicos, promotores de Justiça e
os demais colegas. Gentileza gera gentileza, já foi dito.
9 – NÃO SE PREOCUPE EM DEMASIA EM NÃO TER ALGUNS
PROCESSOS ATRASADOS NA PLANILHA, pois muitas vezes isso significa apenas que
você é cauteloso, estudioso e age com zelo. A dicotomia qualidade x quantidade
persistirá eternamente, cabendo a você manter um bom ritmo, que propicie
leitura acurada dos autos e o estudo do caso. Isso, contudo, não significa
displicência: tente zerar, sem prejuízo da Justiça – que é o que importa.
10 – OLHE PARA AS PESSOAS. A alteridade nos impele
a tentar entender as razões do outro, fazendo com que nos coloquemos na pele
alheia. Ninguém é julgado pelo que é, mas sim pelo que fez ou faz. Olhar, ver e
enxergar são três passos fundamentais ao Juiz.
Por Bruno Machado Miano, Juiz de Direito em Mogi
das Cruzes; Surrupiado do Judex
Fonte: http://www.diariodeumjuiz.com.br/?p=3331
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