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O quarto poder

Posted by Chrystiano Angelo On sábado, 1 de setembro de 2012 0 comentários

O quarto poder

Se muita gente acredita que a imprensa tem, hoje, um poder absoluto sobre a sociedade, orientando e formando a opinião pública, isto se deve sobretudo ao papel decisivo que ela desempenhou por ocasião da guerra mantida pelos Estados Unidos da América contra a Espanha, em 1898. A história assegura que a influência da imprensa foi determinante para que aquele conflito ocorresse. A ponto de se afirmar que aquela experiência foi uma contribuição muito importante para se legitimar o conceito do quarto poder com que certas publicações periódicas passaram a ser vistas, logo após a revolução francesa.
O mau relacionamento já se arrastava há anos entre estas duas nações. O ponto central do desentendimento eram as colônias de ultramar mantidas pela Espanha no mundo. Foi então que a imprensa norte-americana começou a fazer uma sistemática campanha anti-espanhola, o que detonaria um conflito bélico conhecido como a Guerra Hispano-Americana, que viria se desenrolar entre os meses de abril e agosto de 1898, colocando em jogo o destino político de Cuba, Porto Rico, Guam e das Filipinas.
Na raiz do conflito, os correspondentes estrangeiros mais qualificados foram enviados a cada uma das colônias em disputa, com uma clara instrução: levantar tudo que os espanhóis estavam fazendo e informar à redação. Se o que eles faziam era mau e perverso, tanto melhor. Mas quando os correspondentes lá chegaram, tudo estava muito calmo... Tanto assim que um deles enviou um telegrama avisando que a calma onde ele ali estava era tamanha que a probabilidade de um enfrentamento estava longe de ocorrer.
A curta resposta do chefe de redação não demorou a chegar e foi imperativa: "Envie-me apenas as ilustrações que eu encenarei a guerra." Quem escreveu isto foi um dos mais respeitados homens do mundo das notícias. Ninguém menos do que William Randolph Hearst, o criador da imprensa marrom, cujo lema era: "Eu faço as notícias". Uma figura controversa como poucos nos meios jornalísticos da época, Hearst serviu de modelo para o célebre personagem Charles Foster Kane, retratado por Orson Welles, em Cidadão Kane.
As ilustrações, a que Hearst se referia, eram os desenhos que os correspondentes deveriam lhe enviar. Mas não mostrando o que os espanhóis faziam, e sim, o que o seu chefe esperava que os espanhóis fizessem. Logo em seguida, começaram a surgir os esboços de soldados espanhóis torturando mulheres inocentes, por suspeitarem que elas eram espiãs. Adicione-se a estes factóides a publicação de uma carta enviada pelo embaixador da Espanha ao presidente dos Estados Unidos, William McKinley (1843-1901), que vazou no New York Journal. Na carta, o embaixador insinuava as suas dúvidas quanto ao fato das declarações do presidente não serem confiáveis, pela fama do mandatário ser conhecido como sendo um "político fraco e populista". A partir deste momento o desfecho se acelerou e, apesar de ambos os governos evitarem o conflito, a imprensa o instigou.
Quis o destino que um barco norte-americano explodisse perto de Havana. Antes mesmo que este acontecimento fosse esclarecido, a imprensa informou que os responsáveis pela explosão eram os espanhóis. Mas incrivelmente os governos de ambos os países nada fizeram, ainda que a situação se mostrasse tensa. Os jornais anunciaram então com grande estardalhaço: "O povo patriota defende o uso das armas".
Pressionado pela imprensa e pela opinião pública, no dia 25 de abril de 1898 o presidente McKinley declarou a guerra. Foram 3 meses de hostilidades. Os mortos se contaram aos milhares. Mas os exemplares dos jornais vendidos chegaram aos milhões. Como resultado do conflito, a Espanha perdeu suas últimas possessões coloniais. Nascia então o mito da imprensa como o quarto poder.
Mas isso era uma outra época e, é claro, não há a menor semelhança desses fatos com os que ocorrem hoje por aqui no Brasil, nem tampouco a imprensa daqui tem, sequer de longe, todo esse poder. Já os nossos leitores devem estar agora muito mais bem informados do que eram no passado.
Por José Carlos Alcântara, colaborador do Jornal Primeira Hora, do Rio de Janeiro, e consultor de empresas
Fonte: Blog Promotor de Justiça

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