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ARTIGO - ANENCEFALIA: DIREITO A VIDA X CONDENAÇÃO A MORTE.

Posted by Chrystiano Angelo On domingo, 3 de junho de 2012 0 comentários

                    ANENCEFALIA: DIREITO A VIDA X CONDENAÇÃO A MORTE.

                                                                  NAYARA LUANA HOLANDA CORDEIRO[1]

                                                             RESUMO
Anencefalia: Tecnicamente falando
A anencefalia é uma má formação rara que atinge o tubo neural, é caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e em alguns casos há ausência da calota craniana, essa má formação advém de defeito no momento do fechamento do tubo neural, fechamento esse que ocorre nas primeiras semanas da formação do embrião.
Ao contrário do que se pensa, a anencefalia não caracteriza necessariamente a ausência total do encéfalo, mas há situações em que pode ser observado diferentes graus de danos encefálicos, que serão determinados de acordo com a gestação.
Na prática, a palavra "anencefalia" corriqueiramente é utilizada para descrever uma má-formação fetal do cérebro. Nestes casos, o bebê pode apresentar algumas partes do tronco cerebral que podem funcionar corretamente, o que garante ao feto ou ao recém nascido algumas funções vitais do organismo, o que lhe propicia mais algum tempo de vida.

PALAVRAS-CHAVE: anecefalia – condenação a morte – superação.

                                          ABSTRACT
Anencephaly: Technically speaking.
Anencephaly is a rare malformation that affects the neural tube is characterized by partial absence of the brain and in some cases the skull, which arises from defects at the time of neural tube closure, that closure occurs in the first weeks of embryo formation.
              Contrary to popular belief, anencephaly does not necessarily characterize the total absence of the brain, but observed situations in which varying degrees of brain damage, which will be determined in accordance with the pregnancy.
In practice, the word "anencephaly" is routinely used to describe a fetal malformation of the brain. In these cases, the baby may have some parts of the brain stem that can function, which ensures the fetus or newborn some vital functions of the body, which gives her more time to live.

KEYWORDS: anencephaly - death sentence - overcoming.

          
                                                  INTRODUÇÃO

1 Desmistificação da Anencefalia
Anencefalia no ponto de vista médico, é uma patologia letal, isto é, bebês que sofrem dessa má formação possuem expectativa de vida muito curta, porém, do ponto de vista prático essa expectativa não pode ser estabelecida com precisão, pois o tempo de vida desses fetos podem variar de caso para caso.
A exemplo disso pode-se citar o caso da pequena Teresa, filha de Ana Cecília e Jorge casal que participa da comunidade judaica Shalom, Teresa é uma criança anencéfala nascida no estado do Ceará que viveu 103 dias após seu nascimento.
Em depoimento dado ao blog Carmadélio, blog voltado aos milagres da fé e à comunidade judaica Shalom, Ana Cecília, mãe da pequena Teresa, descreve a experiência de vida que sua amada filha a proporcionou, e como foi valiosa a passagem da criança na sua vida, apesar de muito rápida.
Em momento algum se queixa, lamenta, questiona a meterórica passagem de Teresa em sua vida, afirma também que nunca passou por sua cabeça a possibilidade de abortar, não se deixou abater pelas dificuldades e juntamente com sua obstetra honraram a vida humana, defenderam e protegeram heroicamente o papel de Mãe, deixando que Teresa viesse ao mundo e fizesse feliz todos que a conheceram.
Abaixo, o depoimento de Ana Cecília[2]:
“Quanto tempo uma vida precisa ter em “tempo de existência” para ser respeitada e considerada vida?
***
No Ano Jubilar, festa da encarnação do Verbo, de contemplação dos mistérios da vinda de Jesus ao mundo, ela foi concebida. Um casal amigo dizia: “É o bebê do Jubileu!”
Éramos uma família de três filhos: Ana Karine, Felipe José e Maria Clara, em março de 2000, Maria Tereza foi concebida. Grande foi nossa alegria por saber que teríamos mais um filho. Um exame de rotina solicitado no início do terceiro mês pela obstetra revelou que o bebê tinha uma má formação grave denominada de anencefalia (ausência de cérebro).
A literatura médica diz que as crianças anencéfalas sobrevivem horas ou no máximo um a dois dias. Ouvindo o médico falar o diagnóstico, eu repetia no meu coração: “Tu só sabes amar, Senhor; Tu me amas e eu te amo; Jesus e Maria, amo-vos! Salvai almas!” Imediatamente senti o mergulho na graça de Deus que me sustentava e me amparou até o fim. Meu único lamento foi: por que tão pouco tempo, por que somente nove meses? E nisso fui atendida! O Senhor nos deu a sua presença durante treze meses.
Em nenhum momento pensei em não tê-la comigo. Enquanto muitos médicos recomendam o aborto para esse caso, minha médica, Dra. Francy Emília Moura, honrou sua profissão, zelando pela vida. Acolheu-nos, fazendo tudo para que a gravidez fosse a mais tranqüila possível.
 E assim aconteceu!
Uma amiga e irmã, três dias depois que tomei conhecimento do problema, disse-me que estava fazendo a consagração a Nossa Senhora e que, todas as noites, ficava por volta de duas horas aos pés de Maria, venerando-a, amando-a.
Numa dessas noites, ao adormecer, sonhou comigo: “Tive um sonho lindo com você, Aninha! (ela apenas sabia que eu estava grávida). Sabe aquele ícone em que Maria está com as mãos levantadas ao céu, e o menino Jesus está na sua barriga?!
No sonho, Maria se apresentava como nesse ícone, ela vinha em sua direção, baixava as mãos, tirava o menino Jesus da barriga dela e colocava na sua! Foi lindo! Você leva Jesus na sua barriga”, disse ela.
Que consolo senti no meu coração nesse momento! Era Jesus! Minha dor lentamente se convertia em oferta de amor por todos os homens, pela minha família, pela minha comunidade, por todos que, doando suas vidas, me formaram na vocação Shalom, sendo exemplo de fé e esperança no Deus Vivo.
Desejo com você, que lê meu testemunho, contemplar os mistérios da vida de Jesus em Maria Tereza. Nós, servos inúteis, apenas fomos obedientes à Mãe Igreja, cumprindo nossa missão de família cristã, guardando, revelando e comunicando o amor como um reflexo real do amor de Deus pelos homens e de Cristo por sua Igreja.
Tereza deve nos emocionar, deve calar nossas dores, deve nos levar a lutar pela vida. Ela, com seu corpinho frágil, ao nascer chorou, chorou forte! Era um belo dia de domingo do Advento, o domingo leatare, o dia da alegria pelo menino que vem a nós: JESUS. Imediatamente foi batizada, seu caso foi considerado muito grave.
Obrigada, Senhor, por a haveres criado! Só alegria brotava dentro do meu coração! Um mistério de amor!
Passamos 19 dias no hospital. Uma pequena membrana cobria a parte superior de sua cabeça, qualquer impureza seria fatal para ela. Tereza queria viver! Era alimentada por sonda (posteriormente mamou e tomou leite na colherzinha) e tomava remédios contra a infecção.
No vigésimo dia, levamos nossa filha para casa. Que surpresa, que alegria! A febre havia cedido, mas depois de uma semana retornou e com muita intensidade. Ajoelhei-me ao lado do berço e disse: “Minha filha, não vá agora, precisamos de você mais um pouco conosco”. E Maria Tereza viveu 103 dias.
Interessante que, no início de minha gravidez, tive um pequeno sangramento, e eu dizia com convicção: “Esta criança quer viver, ela vai viver”. Maria Tereza não desistiu de sua existência, sua vida exalava o perfume dos santos. Viveu a santa violência do Evangelho: Sim, Pai, é difícil, mas eu desejo, eu quero, eu vou!
Deus realizou algo tão profundo dentro dela que, apesar de sua limitação, sua vida anunciava e denunciava que a vida vale a pena ser vivida em sua plenitude, mesmo que as maiores e mais sinceras justificativas digam que não. Quem somos nós para arbitrar no sagrado dom da existência? Aborto! Palavra tão atroz, manipulada pelo egoísmo dos homens. Senhor… ensina-nos a amar e ser amor uns para os outros.
Maria Tereza foi amada, respeitada em sua alta dignidade de filha de Deus. Amei-a com todas as minhas forças, tão profundamente que não tenho palavras para expressar.
Amei-a como ela era, não querendo que fosse outra pessoa, mas ela, o ser dela, a alma dela, o corpo dela. Graça! Tudo é graça!
Como um grande sinal de unidade do céu com a terra, Maria Tereza nasceu num dia 17, o dia da páscoa do nosso irmão Ronaldo e faleceu num dia 29, o dia da páscoa do nosso irmão Carlos.
Eles são dois jovens da Comunidade de Vida Shalom que deram a vida pelo Evangelho, a fim de que o Shalom do Pai seja vivido no coração dos homens. A pequena Tereza é mais uma intercessora que nos foi dada para que possamos fielmente cumprir nossa missão.
Maria Tereza viveu o que disse Jesus: “Chegou a hora, Pai, de tu glorificares a tua filha”. E ela foi glorificada pelo Pai, a vitória do amor se fez presente dia-a-dia no seu ser. Em sua páscoa, seu corpinho já sem vida atraía o olhar de todos, atônitos diante de sua beleza. Era a glória de Deus nela.
Uma amiga me confidenciou alguns dias após sua páscoa: “Ana, desculpe-me, mas quando cheguei ao velório e a olhei, pensei: Meu Deus! Colocaram uma boneca de porcelana no lugar da neném. Tal era a claridade de seu corpo”. Um mistério!
Deixemos o Evangelho saltar em nós, suas letras pularem em nosso coração: Vida! Vida! Ele é Vida! Um milagre! O Amor salva! Ó Abismo da riqueza, abismo da sabedoria de Deus, quão insondáveis são os teus caminhos e impenetráveis os teus pensamentos!
Tereza foi concebida na Quaresma, nasceu no Advento e foi para o Pai na Quaresma do ano seguinte. Um ano de bênçãos vivemos ao seu lado. Hoje somos uma família mais feliz, fomos tocamos pela dor e pelo amor.
Um dia me perguntava por que Jesus passou ainda quarenta dias com os seus, após sua ressurreição. E, olhando para minha filha, pude compreender que aqueles a quem Jesus amava precisavam experimentar concretamente o poder da ressurreição, a graça do amor gratuito, assim como eu experimentei nos dias em que Maria Tereza passou entre nós.
Sinceramente, agradeço a todos que rezaram por nós e foram presença da misericórdia do Deus Justo. Avancemos livremente no amor, pois só ele permanece!

O depoimento de Ana Cecília é comovente, ela melhor do que ninguém pode descrever e afirmar o quão é valiosa a experiência de vida que é ter um filho ou filha anencéfalo, ela descreve com emoção e com louvor o tanto que sua filha fora amada e  respeitada, não só por ela e por seu marido, mas também por todos que a conheceram.
Fragilidade, poucas horas de vida, estado psicológico da mãe e riscos de gravidez não podem ser argumentos favoráveis ao aborto de anencéfalos, a vida é bem constitucionalmente garantido a todos os seres humanos e não pode ser facultada ou submetida a vontade da genitora por um órgão colegiado que nada sabe do real sentido e valor que possui o título MÃE.

Em trecho de seu depoimento Ana Cecília diz:
[...] Deus realizou algo tão profundo dentro dela que, apesar de sua limitação, sua vida anunciava e denunciava que a vida vale a pena ser vivida em sua plenitude, mesmo que as maiores e mais sinceras justificativas digam que não. Quem somos nós para arbitrar no sagrado dom da existência? Aborto! Palavra tão atroz, manipulada pelo egoísmo dos homens. Senhor… ensina-nos a amar e ser amor uns para os outros. [...]

Neste trecho ela afirma que a vida vale a pena ser vivida, a vida é feita de dificuldades, de obstáculos, de impedimentos que muitas vezes eliminam a possibilidade de um sonho ser vivido, temos que acreditar que a vida vale a pena ser vivida em sua plenitude. E que dificuldades só engrandecem as vitórias.
Já imaginou se Graham Bell tivesse desistido na primeira dificuldade? O que seria da comunicação, o que seria da vida humana sem o telefone para comunicar-se? Sobreviveríamos apenas com os sinais de fumaça?
Se os médicos não estudassem e não aprimorassem seus conhecimentos o que seria da saúde e da vida humana? O que seria das pessoas se elas não pudessem curar suas enfermidades?
O elo de ligação que há aqui é a importância que existe por trás de uma dificuldade, se há dificuldade há que se persistir, insistir, pois essa dificuldade pode ser a porta para um grande feito, para o nascimento de um grande ser que colaborará para a evolução da vida na terra, seja na medicina ou na evolução dos seres humanos como pessoas.
Uma verdadeira mãe ama, cuida, protege e aceita seu filho seja em que circunstâncias for, o famoso AMOR DE MÃE é referência de amor incondicional, absoluto que é capaz de passar por cima de todas as dificuldades em nome de um filho.
Então por qual motivo, um órgão colegiado se acha no direito de atribuir faculdade de abortar ou não a uma mãe, pelo simples motivo de seu filho ser portador dessa deficiência, dessa má formação chamada anencefalia?
Isso, a meu ver, configura de pronto um homicídio duplamente qualificado, ao passo que o ato cometido, qual seja o aborto, é desferido contra pessoa impossibilitada de defender-se e por motivo torpe, pode parecer estranho ou absurdo, mas não é.
Como se defenderia uma criaturinha que ainda nem nasceu? Que ainda não sabe de nada, não sabe ao menos o que seja vida? Qual mal faria a outra pessoa, um bebê que por motivo genético já está condenado naturalmente a morte?
Essas são perguntas que me desorientam, que me deixam estarrecida com o egoísmo humano, me deixam perplexa com o grau de frieza que uma “pessoa” pode tratar a vida de seres indefesos.
O anencéfalo no período de gestação e depois dele faz da sua mãe e do corpo dela a primeira forma de proteção, usa o útero de sua genitora como santuário, como criadouro e, pensando bem, é exatamente essa a função do útero, acolher, formar, desenvolver e depois entregar ao mundo um bebê que dali por diante fará parte do futuro dele.
Alguns alegam que o fato de uma mãe saber que terá um filho anencéfalo a deixa psicologicamente perturbada, triste em saber que seu filho após nascer passará ao seu lado poucas horas ou dias e depois terá que partir.
Outras pessoas alegam que a própria natureza já fora dura demais dando a futura mãe um filho condenado a morrer, mas isso é um absurdo, pois todos os seres humanos nascem condenados a morrer, não sabendo, portanto, o dia, hora e de que forma ocorrerá.
Os bebês anencéfalos estão predestinados a morrer, tendo como expectativa de vida poucas horas ou dias, porém há casos comprovados de que isto é um mito, pois já fora registrados casos de anencéfalos que viveram mais de um ano.
Outros dizem que um bebê anencéfalo não vive, apenas vegeta pelo simples fato de serem limitados de desempenhar algumas atividades que um bebê saudável faz.
E dizem ainda que não possuem vida digna ou que não são pessoas normais, mas como explicar o fato de que eles reconhecem a voz materna, reagem a cheiro, gosto e gestos de carinho? Eles na qualidade de seres humanos têm o direito de viver.
A vida por si só já é digna, é um dom dado por Deus às pessoas para que elas propaguem o bem, a fé e vivam na sua presença convivendo de forma harmoniosa uns com os outros, tratando-se de maneira igual e respeitosa.
 Porém não é mencionado por ninguém que não são os bebês que escolhem ser concebidos assim, não escolhem essa má formação, portanto se suas vidas são concebidas assim mesmo, é mais do que justo e de direito que se permita o nascimento dos anencéfalos.
Aos olhos da medicina os “motores” do corpo humano é o cérebro e o coração, se um bebê consegue nascer e viver não importando o tempo, sem o cérebro ou apenas com parte dele esse nascimento não pode ser denominado de outra forma que não seja MILAGRE.

2 Anencefalia e casos concretos
Além do caso de Ana Cecília, mãe de Teresa há outros pais de anencéfalos que são totalmente contra a decisão do STF e que recorrem a blogs para dar seu testemunho de experiência de vida e para alertar as mulheres que já foram, que são e aquelas que serão mães de anencéfalos para que não cometam o erro que algumas já cometeram.
Em um artigo publicado no site Portal da Família Paulo Tominaga[3], descreve também sua indignação e diz:
Após ter um filho anencéfalo no ano passado, é com pesar que vejo como o tema tem sido tratado desde a recente decisão de um dos ministros do STF, na qual se assegura às mães o direito de dispor da vida daqueles que venham a gerar. É interessante notar como apenas de modo passageiro se faz referência a estas pequenas pessoas, ficando a tônica da discussão sobre um tal ''direito à liberdade de escolha'' dos adultos envolvidos no caso. Como se a gravidez correspondesse apenas a uma vida - a da mãe -, podendo prescindir da existência do filho.
Este enfoque parece ilustrar como o egoísmo impera em nossa sociedade. Sempre tinha ouvido falar no amor da mãe por seus filhos como o mais excelso tipo de amor possível. E desde os antigos gregos, este costumava ser indicado, para todos, como um ideal a ser alcançado, na relação com os demais.
Hoje, o que parece preponderar como meta é outra espécie de ''amor'', verdadeiro culto religioso, por uma triste caricatura de ''liberdade'', entendida como absoluta falta de compromissos. Não mais se aceita, nem mesmo, o compromisso de se preservar a vida de um filho, se este não puder corresponder às expectativas de seus pais ou - o que é pior - da maioria da sociedade.
Neste quadro, fica claro que, para alguns, só se tem filhos para uma satisfação da auto-estima, como parte de um projeto pessoal ou para que possam, de certa forma, ''divertirem-se'' com as crianças, utilizando-os, como se fossem um objeto qualquer. Se não há a perspectiva de que uma criança venha a proporcionar alegrias aos pais, então é melhor descartá-la o quanto antes - no ventre da mulher, de preferência -, pois assim termina logo esta existência ''insuportável e sem sentido''!
Uma pessoa não pode ser eliminada simplesmente porque não é como nós gostaríamos que fosse. Criam-se teorias e mais teorias para tentar encobrir o óbvio: está se matando uma pessoa, em nome de se ''eliminar os terríveis sofrimentos, verdadeira tortura'', que sua existência causa a sua mãe, a seu pai. Além do mais, dizem, esta criança está condenada à morte, de qualquer forma. Assim, apenas se está antecipando aquilo que naturalmente iria ocorrer em pouco tempo.
Amigos, a criança já terá uma vida breve. Que saibamos respeitá-la. Posso assegurar, por experiência própria, que este caminho conduz a um crescimento grande no amor entre os cônjuges, e na capacidade de se doar aos demais filhos. Filhos que virão, com certeza, como veio para nós neste ano o pequeno Rafael, talvez a demonstração mais palpável de que não há qualquer ''trauma'' no caso, se os pais souberem agir com serenidade.
Se realmente desejam ajudar aos que passam por tais situações, saibam tratar do tema com um enfoque prático que não distorça a realidade mais óbvia, querendo criar teorias para esconder uma vida ou afirmar cegamente que este filho nunca existiu. O problema de saúde, a má formação da criança, é um fato que atualmente não se pode reverter. A questão não está apenas no que se deve fazer durante a gestação.
O grande problema, para os pais - e para a mãe, em especial - é como lidar com o fato ocorrido, depois de este período ter acabado. Porque não é possível se esquecer de um filho: ficará para toda a vida a recordação destes dias. E então, ou a mãe irá se lembrar de que, não podendo ajudar seu filho, matou-o, porque ele não era nem poderia vir a ser como se desejava que ele fosse; ou irá se lembrar, com carinho e ternura, de que seu filho, que teve uma breve existência, foi sempre amado e respeitado.
Amem seus filhos. Garanto que vale a pena.

É claramente notória a insatisfação de Paulo, mas é clara também a sua certeza de que ter um filho anencéfalo não implica em sofrimento, traumas ou dores, não causa nenhum transtorno e muito menos tristeza para os pais que sabem agir com serenidade, com maturidade e principalmente amor.
Um bebê anencéfalo já nasce com limitações e sua vida é dotada de cuidados especiais, sua vida já é predestinada a ser curta então que ao menos a respeite, deixe-a ser vivida ao máximo, temos que dar a esses bebês a chance de serem amados e de despertarem o amor que há nos corações petrificados de muitas pessoas.
Mais outro caso registrado que vai de encontro àqueles que fazem apologia ao aborto, é o caso da pequena Marcela de Jesus Ferreira que nasceu no dia 21 de novembro de 2006 e morreu no dia 1 de agosto de 2008. Um ano, oito meses e 12 dias, esse foi o tempo de vida da pequena Marcela, pouco tempo para alguns, mas para sua mãe foi o tempo necessário para torná-la uma pessoa mais próxima de Deus e do amor.
Este fato aconteceu em São Paulo, na cidade de Patrocínio Paulista, durante o velório da pequena Marcela, por onde passaram 1.500 pessoas, a mãe emocionada disse:
Posso estar tranqüila assim, mas que eu estou sofrendo, estou. Mas eu fiz a escolha certa. Eu deixei ela viver o tempo dela. O tempo que Deus permitiu que ela vivesse. Chegou o momento. Ele me deu uma jóia, um diamante para eu cuidar e eu cuidei até quando Ele veio buscar.” – Cacilda Galante Ferreira, agricultora, mãe de Marcela de Jesus Ferreira, durante o velório da filha anencáfala (sem cérebro) nascida em Patrocínio Paulista (SP).

Em seu artigo publicado no Portal da Família, Eduardo Gama[4] menciona o caso da pequena Marcela de Jesus quando ainda estava com oito dias de nascida, assim sobre o já cogitado aborto de anencéfalos, ele diz:
Enquanto escrevo este artigo, Marcela de Jesus Ferreira está com oito dias de vida. Deve-a a sua mãe, Cacilda. A filha tem anencefalia e está com os dias contados desde a gestação, mas a mãe jamais cogitou abortar.
Os "bem pensantes" promotores do aborto dizem que carregar um bebê nestas condições é um sofrimento e, segundo esse ponto de vista, inútil, como todo sofrimento. Ao jornal Estado de São Paulo, Cacilda declarou:
"Sofrer a gente sofre, mas ela não pertence a mim, mas a Deus, e eu cuido dela aqui".
 Profunda frase de uma agricultora, mostrando que a sabedoria é um dom, não uma erudição. Profunda porque sabe que a vida não se encerra com a morte, pois diz "eu cuido dela aqui" e sabe que a sua vocação materna a impele a cuidar de Marcela "aqui", na Terra. Entende que a filha morrerá, mas "ela pertence a Deus" e a ele voltará.
Enquanto isso, Cacilda faz o que toda mãe que ama faria, amamenta, cuida e diz que "cada segundo dela é precioso para mim". Afinal, quem ama fica feliz com a existência de quem ama, não importa em quais condições e
por quanto tempo, apenas sabe que dedicará a sua vida para cuidar daquela outra que lhe foi confiada: "Considero a vida dela até agora um milagre muito grande e vou ficar aqui até Deus achar que é a hora dela partir", falou ao jornal a mãe.
Em sua simplicidade, Cacilda sabe que um ser humano não é um amontoado de células manipuláveis em laboratório ou alguém que pode ser morto para "não causar sofrimento". Sofrer, todo mundo sofre e sofre, às vezes, muito.
Contudo, como Platão diz pela boca de Sócrates no dialogo Górgias, pior não é sofrer um mal, mas causá-lo, não é ser vítima, mas algoz, pois quem comete o mal se transforma naquilo que comete, enquanto quem sofre o mal, tem a chance de engrandecer-se, como próprio Sócrates ao ser obrigado a tomar cicuta.
Como não tenho a simplicidade de Cacilda, citarei mais exemplo literário. No genial livro "Os irmãos Karamazov", Dostoievski descreve três irmãos separados na infância e que se reencontram quando estão todos na casa
dos vinte anos. Dimitri é um sentimental que sabe não ser uma boa pessoa, mas não consegue evitar seus erros, Aliocha, o mais novo é uma boa pessoa, ainda ingênua, mas luta pelo bem e Ivan é inteligente e revoltado.
Um fato importante para a narrativa é a ação de Ivan. Ele não comete crime algum, mas alicia um empregado da casa a cometê-lo. Com argumentos "intelectuais" impele um pobre homem ao mal, revelando assim o seu ódio.
Contei toda essa história porque penso que aqueles que com todo o conhecimento médico e mesmo perante casos como esse defendem o aborto, parecem-me comportar-se como Ivan.
No ano passado, uma mãe foi autorizada a fazer o aborto de um bebê anencéfalo. Disse o juiz: "gestação infrutífera ora impugnada trará riscos à própria saúde da gestante, que poderá sofrer por toda sua vida dos danos, senão os físicos, dos prejuízos psicológicos advindos do fato de carregar nove meses criança em seu ventre fadada ao fracasso" (Folha, 23/12/2005).

O beato e Papa João Paulo II, uma vez disse:
Por acaso, o mandamento “Não matarás” prevê alguma exceção? O aborto é uma autorização dada a um adulto, pela lei instituída, para privar da vida um ser humano não nascido e, por isso, incapaz de defender-se. É difícil pensar numa situação mais injusta.

Não restam dúvidas de que os argumentos adotados por aqueles que são favoráveis ao aborto estão completamente derrubados, passíveis de completa abominação, pois matar uma criança que ainda nem nasceu por puro egoísmo é no mínimo uma atrocidade, uma maldade sem tamanho e desprovida de propósitos.

3 Argumentos Jurídicos contra o aborto
Direito à vida é um bem constitucionalmente garantido, é também cláusula pétrea sendo, portanto, imutável, indestrutível e inquebrável.
Corroborando este pensamento a advogada Simone Marcussi[5] expõe seu pensamento:
O direito à vida, conforme reza a Constituição Federal, antecede todos os outros não podendo ser minimizado por um direito subjetivo da mãe que enseja abortar. Vale lembrar ainda que o artigo 4º do Pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, assegura o direito à vida desde a concepção e tem força de emenda constitucional imutável, cláusula pétrea. Também o artigo 2º do Código Civil dispõe que “a lei põe a salvo dos direitos do nascituro desde a concepção”.
A questão da anencefalia desdobra-se também sobre a hipótese de não haver expectativa de vida da criança, ou seja, vida em potencial. Ora, expectativa ou probabilidade de vida há, curta, mas há.
Outra questão se depreende do fato de que há entendimentos no sentido de que o feto portador de anencefalia não é considerado vivo por não ter o cérebro totalmente formado o que não configuraria ilícito penal a prática do aborto, uma vez que este consiste na cessação da gravidez de um ser humano vivo. Mas seria correto afirmar que um bebê apesar de anencéfalo, mas cujo coração e respiração funcionam independentemente de meios artificiais, esteja morto?
Outro argumento é o de que o bebê com a referida anomalia mantém-se vivo somente às custas do organismo materno. Mas o corpo da mãe é essencial até mesmo para fetos sadios e perfeitos manterem-se vivos até o nascimento. E a anencefalia não é impedimento para que outras funções vitais, como a respiração e o batimento cardíaco, permaneçam ativas ainda que por pouco tempo após o parto.
Outra questão que se aborda é a da morte cerebral, que não se confunde com a anencefalia. Equiparando-as, como tem sido feito neste caso, peca-se por desconhecimento, já que na primeira as funções vitais não se prorrogam a não ser por meios artificiais.
Na segunda, aquelas funções podem ser mantidas ainda que por pouco tempo depois do nascimento ou mesmo por dias e meses. Há estudos que tratam de casos menos críticos que possibilitam ao anencéfalo condições primárias sensoriais e de consciência. Isso seria possível devido à neuroplasticidade do tronco cerebral.
Em se tratando do preceito constitucional da dignidade da pessoa humana este nada mais é do que o direito à assistência para manter uma vida digna até a morte inevitável. Este princípio não está sujeito à concepções subjetivas. Portanto, qualquer outro conceito de dignidade que não seja aquele mencionado consistirá em ardilosa tentativa de adaptar o princípio fundamental às conveniências pessoais.
Em que pese o sofrimento dos pais que sabem da curta sobrevida do seu filho, não se pode ignorar que o direito à vida inerente à criança não está condicionado à vontade de seus genitores. E amar um filho independe de sua perfeição física ou do tempo em que ele viverá.
Ainda que o feto tenha vida curta, ainda que os pais sofram por isso, viver é um direito inviolável. Cabe a pergunta: quando se sofre mais? Quando se gera um filho defeituoso cuja morte será natural ou quando se mata esse filho por sua própria vontade trazendo consigo além da dor da perda a dor do remorso?

A dúvida que este artigo remete é bastante conveniente, quando se sofre mais, ao receber um diagnóstico de anencefalia ou ao receber tal diagnóstico decide-se de imediato acabar com aquela vida ainda tão frágil?
O que não se pode aqui é sustentar um crime em meras especulações. O tempo de vida que um bebê anencéfalo pode viver é um fator quase que incalculável, pois a ciência estima que um bebê com esse problema pode viver apenas horas ou no máximo poucos dias, mas o que essa mesma ciência diz quando estes mesmos bebês vivem anos?
Resta provado aqui que o fator vida curta não pode servir de base para a opção do aborto. Dignidade da pessoa humana, um princípio constitucional que tem a função principal de defender e assegurar a vida às pessoas, hoje em dia é usado como base aliada aos defensores do aborto de anencéfalos.
Pessoas que defenderam a vida, hoje defendem e propagam a prerrogativa do aborto, isso é um absurdo jurídico, é uma aberração e uma afronta aos direitos dos seres humanos, cadê a dignidade inerente a pessoa humana? Cadê o direito de ter vida digna? Vida digna é toda aquela existente, é toda aquela que pode ser aproveitada.
A vida de uma pessoa não pode ser valorada pelo número de dias que viveu ou que venha a viver, mas sim pela importância de sua existência, pelo bem que proporcionou com seu nascimento e simplesmente pelo fato de ter existido.


4 O aborto dos anencéfalos
Esta é uma questão já debatida há alguns anos e que se tornou mais acirrada após a decisão do STF, decisão esta que deu faculdade as mães de anencéfalos de abortarem pelo simples fato de ser diagnosticada a anencefalia.
A respeito disso o professor Marcelo M. Seneda[6], corrobora:
Nos últimos dias temos visto à nossa volta uma grande polêmica: a questão do aborto dos anencéfalos. Diversos núcleos apresentam argumentos prós e contras, em uma discussão extremamente importante, pois se trata de tornar institucional a decisão sobre a continuidade ou não de um evento referente à vida.
Considerando o parecer francamente favorável do Ministro da Saúde ao aborto, tenha o feto encéfalo ou não, causa-me preocupação alguns argumentos mencionados pelos grupos pró-aborto. Vou abrir um parêntesis, para enfatizar o uso do termo "aborto", pois considero um eufemismo essa recente substituição por "antecipação programada do parto".
Pois bem, os grupos pró-aborto enfatizam o sofrimento da gestante de um feto anencéfalo, alegando uma 'agressão à dignidade da pessoa humana'. Seguramente essas mães sofrem e a preocupação com o sofrimento alheio é sempre meritória. No entanto, pergunto: qual mãe não sofre por seus filhos? Sofre mais a mãe cujo recém-nascido vem óbito em um curto período, ou aquela mãe que vê seu filho morrer lentamente, nos descaminhos da droga? Sofre mais a mãe cuja gestação enfrenta sérios riscos, ou aquela mãe que vê seu filho, saudável e bem-formado, contrair uma doença causada pela falta de saneamento básico?
Aliás, é possível mensurar o sofrimento?
Há outro aspecto muito sério. Os atuais recursos diagnósticos permitem a identificação de centenas de alterações durante a vida fetal. Síndromes diversas podem ser diagnosticadas relativa segurança. Então, depois do anencéfalo, qual será a próxima alteração fetal a justificar o aborto?
Isso me traz à mente qualquer coisa de "pureza racial" enrustida. Saber da surdez, cegueira, agenesia de membros, retardo mental, intersexualidade etc. não são situações capazes de causar sofrimento nas mães e pais, de "agredir a dignidade da pessoa humana?" Mas o mundo hoje tem se empenhado tanto na inclusão dos portadores de necessidades especiais, então como estabelecer quais anomalias podem ou não ser mantidas durante a gestação?
A ação pró-aborto é movida por um sindicato ligado aos profissionais da saúde. Fico surpreso com isso, seria de se esperar ações pró-vida dessas pessoas. Algo como cobrar do Ministério mais investimentos no diagnóstico precoce de anomalias embrionárias e fetais.
E incentivar pesquisas para, a partir do diagnóstico, haver medidas capazes de atuar na ativação ou repressão dos genes responsáveis por tais alterações. Afinal, a seqüência gênica não pode ser alterada, mas a epigenética hoje nos mostra ser possível modular a ação dos genes. Gostaria de ver o Ministro defendendo mais recursos para a Saúde, eliminando doenças vinculadas à falta de saneamento básico.
Gostaria de ver os profissionais desse sindicato promovendo uma educação de qualidade aos jovens e adolescentes, para permitir o exercício da sexualidade de maneira saudável e equilibrada.
Finalmente, enfatizo minha estranheza à afirmação do Ministro, afirmando uma acurácia de 100% no diagnóstico da anencefalia. Em geral, os profissionais das ciências da vida evitam sistematicamente o "100%", porque todos os dias somos surpreendidos com fatos inesperados. Mais ainda, me recordo de um fato amplamente noticiado pela mídia há alguns anos.
Por apresentar aumento de volume abdominal, dor e náuseas, uma mulher recebeu o diagnóstico de um tumor maligno, confirmado por ultra-sonografia. Meses de angústia depois, o suposto tumor "se transformou" em um bebê saudável, após parto normal.
Será mesmo tão eficiente assim o nosso atual sistema de saúde?
O argumento sofrimento alheio só leva em consideração a mãe, o que a mãe sente durante a gravidez, o que a mãe sente no momento do diagnóstico, porém nunca é levado em consideração a criança indefesa.
Mais uma vez volto ao “incondicional” amor de mãe, nessas horas onde ele se esconde? Por que aqui o que prevalece é o egoísmo e não o amor materno? Quer dizer então que algumas mães não amam seus filhos do jeito que eles são? Então quer dizer que o excelso amor de mãe possui níveis, graduação ou colocação? É intrigante.
O anencéfalo aqui quase tratado como uma “coisa” é como se esse pequeno ser fosse um objeto de uma transação comercial, um objeto de contrato que se não estiver em perfeitas condições não pode vingar, não pode continuar a existir, estes bebês estão sendo tratados como os escravos nos tempos da sofrida escravidão.
Eram tratados como mercadorias, e se também não estivessem em perfeitas condições não eram vendidos, e se não fossem vendidos eram mortos.
Cito também a adoção como um fator de discriminação e de completo desrespeito, um preconceito que se assemelha ao vivido pelos bebês anencéfalos, nas enormes filas de adoções espalhadas por todo o mundo, qual a preferência das famílias? Bebês de no máximo dois anos de idade, loiro, de olhos azuis e que se encontrem em perfeito estado de saúde.
E as outras crianças? Vivem nos orfanatos desprezadas até que completem a maioridade para depois serem quase que expulsas do orfanato ou ONG’s, pois na maioria desses estabelecimentos não podem ficar os maiores de idade.

5 O STF e a permissão ao aborto: afronta constitucional
É, no mínimo, uma pesada afronta à constituição a decisão proferida pelo STF, um órgão colegiado que possui como dever natural a proteção à Carta Magna de 1988 e ao ordenamento jurídico como um todo, profere decisões a próprio gosto deixando de ser guardião e parte da constituição federal e passando a ser autônomo, como se sozinho pudesse ser a própria constituição.
Em colaboração com este pensamento, escreve Ives Gandra[7]:
Estou convencido - apesar de ser eu um modesto advogado de província e ele, brilhante guardião da Constituição - de que a decisão é manifestamente inconstitucional. Macula o artigo 5º da lei suprema, que considera inviolável o direito à vida.
Fere o § 2º do mesmo artigo, que oferta aos tratados internacionais que cuidam de direitos humanos a condição de cláusula imodificável da Constituição. Viola o artigo 4º do Pacto de São José, tratado internacional sobre direitos fundamentais a que o Brasil aderiu, e que declara que a vida começa na concepção.
Juridicamente, a antecipação, pelo aborto, da morte do anencéfalo é vedada pelo texto maior brasileiro.
Meu caro amigo Ministro Marco Aurélio - de quem divergir no episódio causa-me profundo desconforto -, ao justificar o aborto, que é a pena de morte, no caso do nascituro anencéfalo, por ser ele um condenado à morte, está, também, justificando a pena de morte a todos os doentes terminais, pela eutanásia, e abrindo a porta para o culto à raça pura, inclusive às manipulações genéticas para que sejam produzidos somente seres humanos perfeitos e saudáveis, e - o que é pior - valorizando a cultura da morte e não a defesa da vida. Uma vez aberto o caminho, por ele passarão todas as teses antivida.
Espero - pois a Constituição garante a todos os seres humanos, bem ou malformados, sadios ou doentes, o direito à vida desde a concepção, sendo a morte apenas a decorrência natural de sua condição e não a decorrência antecipada de convicções ideológicas - que venha a rever seu voto, quando a questão for levada ao plenário. Espero, também, que seus pares homenageiem a vida, proscrevendo a morte antecipada.


CONCLUSÃO
É bem clara a indignação dos pais de anencéfalos em relação a este absurdo jurídico, eles melhor que ninguém podem descrever qual a sensação de se ter um filho anencéfalo, e descrevem ainda tamanha satisfação que o mesmo os proporcionam.
A anencefalia está sendo tratando como uma verdadeira doença contagiosa, que apavora quem a respeito dela toma conhecimento, estão votando a favor do aborto contrariando a Carta Magna e desrespeitando os próprios seres humanos.
A vida que é legalmente defendida está sendo resumida a egoísmo e em grande parte a estética. Dizem defender a vida, pois ela é o maior direito fundamental, mas estão menosprezando vidas inocentes, que não possuem meios para proteger-se do egoísmo adulto que é na maioria das vezes advindo de seus próprios genitores, agora apoiado por quem deveria defender a vida em todas as suas formas.
A pessoa que deveria ajudar e proteger seu filho com todas as suas forças, acaba de receber a faculdade de ceifar a vida de um ser que não pode opinar, que por má formação, que diga-se de passagem não é culpa sua, já é condenado a morte quase que sumariamente.
E agora onde fica o incondicional amor de mãe tão mencionado e tão referenciado? Isso é algo que no momento, é para alguns, questão de segundo plano.
Anencefalia não é uma peste, não é um vírus, não é uma doença contagiosa e sim uma má formação genética que acomete algumas crianças fazendo com que elas nasçam com algumas limitações.
O que não as impedem de viver mais tempo do que esperado, o que não pode servir de base para esse descarte sumário que algumas mães vêem fazendo com seus filhos.
 No momento que o/a obstetra dá o diagnóstico de anencefalia algumas mães entram em desespero é como se recebessem uma sentença de morte, é como se não estivem esperando uma criança passível de amor e carinho como todas as outras.
Anencéfalos são seres especiais enviados a terra com a missão de dissipar o egoísmo, o preconceito, o mau-caratismo e propagar o amor, disseminar o bem, para mostrar que são passíveis de amor, que sabem amar, que não são inanimados, que não são fantoches, são pessoas dotadas de amor, dignidade e humanidade.
Anencéfalos são crianças, são pequenas criaturas enviadas por Deus assim como as outras e não podem ser tratadas de outra forma, não podem ser alvos de discussões judiciais, não podem ter suas frágeis vidas submetidas ao crivo de legisladores que nada sabem o que é verdadeiramente ser mãe.
Devem apenas ser recebidas com carinho, amadas e acima de tudo respeitadas como todo ser humano deve ser, devem também ter o direito de nascer e viver o tempo ao qual foram destinadas a viver, sem nenhum impedimento, sem nenhuma ressalva, pois toda vida concedida por Deus é digna em sua plenitude e tem que ser aceita e cumprida, respeitando assim a ordem natural dos fatores da vida, seja ela em que tempo for, em que tempo se realize, em que tempo se conceda.
Á respeito das conseqüências do aborto de anencéfalos Carlos Dias[8], expõe seu pensamento:   
As conseqüências sociais da decisão que admite o aborto são igualmente desastrosas, favorecendo a impunidade dos médicos criminosos que o praticam, cujo principal argumento de defesa, doravante, será a alegação da suposta anencefalia do nascituro, cuja ocorrência, embora clinicamente rara, passará a ser tão corriqueira quanto as cesarianas.
A decisão, também, nos faz refletir sobre a relação entre a liberdade e a consciência moral. Todo ato moralmente válido está circunscrito à liberdade do homem em realizar o verdadeiro bem. E o bem é o valor primário a ser assumido pela liberdade como guia das decisões humanas.
O nascituro é sujeito de direitos, reconhecidos inclusive na recomendação 1.046 do Conselho Europeu, de 24 de setembro de 1986.
O que ora se discute não é o inegável drama gerado pela anencefalia, mas o grave precedente de a mais alta corte do país, a quem caberia guardar os princípios constitucionais, autorizar a execução de fetos sem cérebro, como se o direito à vida pudesse ser cassado por uma ordem judicial, fato inédito que amanhã pode ensejar a aplicação de igual violência a outras formas de enfermidade, sem que as vítimas tenham chance de defesa.
O conceito correto é o de que o ventre materno é verdadeiramente um santuário para todos os fins e efeitos.
Nada seria mais monstruoso do que se permitir a invasão deste ambiente de maturação da vida, para que a própria vida seja atacada no nascedouro, sendo fatiada, aspirada e colocada no lixo, literalmente.

É assim que a vida humana merece terminar? Fatiada, cortada, aspirada e colocada no lixo? E por quê? Por puro egoísmo, por especulações sem sentido, por questão de estética, por padrões sociais?
Voltamos então aos tempos do Código de Hamurabi? Voltamos aos tempos da caverna? Voltamos a ser gladiadores selvagens?
Ao invés de evolução, estamos passando por um processo de involução, de regresso, de retrocesso, onde o que importa é a estética, a forma física, estamos em uma época onde sentimentos estão sendo substituídos por padrões estéticos de beleza.
Estamos em uma era onde a mecanização e robotização estão contaminando os pensamentos humanos, crianças não podem nascer “defeituosas”, pois se assim for diagnosticado as mães têm a prerrogativa legal de descartar essas crianças como se elas fossem um rabisco de um projeto que não deu certo. Lamentável.

REFERÊNCIAS

   




[1] Nayara Luana Holanda Cordeiro. Acadêmica do curso de direito da Faculdade Mater Christi.
[2] Ana Cecília Araújo Nunes Silva, Consagrada na Comunidade de Aliança Shalom de Fortaleza, hoje missionária da comunidade no Chile.

[3] Paulo Tominaga, Mestre em Ciência da Computação, engenheiro pela Unicamp, advogado, atualmente é Consultor do Núcleo Jurídico do PRODASEN - Senado Federal. Tem três filhos, sendo que o segundo, já falecido, era anencéfalo.

[4] Eduardo Gama, professor de redação e literatura em Jundiaí e Campinas. Mestres em Literatura pela USP, tradutor, jornalista e publicitário. É autor do livro de poemas "Sonata para verso e voz" e editor dos sites www.doutrinacatolica.com.br e www.revisaoetraducao.com.br

[5] Dra. Simone Marcussi de Almeida Prado - OAB 124.755.
[6] Marcelo M. Seneda, DVM, MSc, PhD. Professor da Universidade Estadual de Londrina com doutorado em biotecnologia da reprodução e pós-doutorado em epigenética de gametas pela McGill University.
[7] Ives Gandra da Silva Martins é advogado e Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
[8] Carlos Dias é presidente do Instituto Vida e Família

FONTE: Nayara Cordeiro, nanah_cordeiro@hotmail.com, Bacharelando em Direito, 9 Período da Faculdade de Ciência e Tecnologia Mater Christi 

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