ANENCEFALIA: DIREITO A VIDA X CONDENAÇÃO A MORTE.
NAYARA LUANA HOLANDA CORDEIRO[1]
RESUMO
Anencefalia: Tecnicamente falando
A anencefalia
é uma má formação rara que atinge o tubo neural, é caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e em
alguns casos há ausência da calota craniana, essa má formação advém de defeito no
momento do fechamento do tubo neural, fechamento esse que ocorre nas primeiras semanas da formação do embrião.
Ao contrário do que se pensa, a anencefalia não
caracteriza necessariamente a ausência total do encéfalo, mas há situações em
que pode ser observado diferentes graus de danos encefálicos, que serão
determinados de acordo com a gestação.
Na prática, a palavra "anencefalia" corriqueiramente é utilizada para descrever uma
má-formação fetal do cérebro. Nestes casos, o bebê pode apresentar algumas
partes do tronco cerebral que podem funcionar corretamente, o que
garante ao feto ou ao recém nascido algumas funções vitais do organismo, o que
lhe propicia mais algum tempo de vida.
PALAVRAS-CHAVE: anecefalia – condenação a morte – superação.
ABSTRACT
Anencephaly: Technically speaking.
Anencephaly: Technically speaking.
Anencephaly is a rare malformation that affects the neural tube is
characterized by partial absence of the brain and in some cases the skull,
which arises from defects at the time of neural tube closure, that closure
occurs in the first weeks of embryo formation.
Contrary to popular belief, anencephaly does not necessarily characterize the total absence of the brain, but observed situations in which varying degrees of brain damage, which will be determined in accordance with the pregnancy.
In practice, the word "anencephaly" is routinely used to describe a fetal malformation of the brain. In these cases, the baby may have some parts of the brain stem that can function, which ensures the fetus or newborn some vital functions of the body, which gives her more time to live.
Contrary to popular belief, anencephaly does not necessarily characterize the total absence of the brain, but observed situations in which varying degrees of brain damage, which will be determined in accordance with the pregnancy.
In practice, the word "anencephaly" is routinely used to describe a fetal malformation of the brain. In these cases, the baby may have some parts of the brain stem that can function, which ensures the fetus or newborn some vital functions of the body, which gives her more time to live.
KEYWORDS: anencephaly -
death sentence - overcoming.
INTRODUÇÃO
1
Desmistificação da Anencefalia
Anencefalia no ponto de vista médico, é uma
patologia letal, isto é, bebês que sofrem dessa má formação possuem expectativa
de vida muito curta, porém, do ponto de vista prático essa expectativa não pode
ser estabelecida com precisão, pois o tempo de vida desses fetos podem variar
de caso para caso.
A exemplo disso pode-se citar o caso da pequena
Teresa, filha de Ana Cecília e Jorge casal que participa da comunidade judaica
Shalom, Teresa é uma criança anencéfala nascida no estado do Ceará que viveu
103 dias após seu nascimento.
Em depoimento dado ao blog Carmadélio, blog voltado
aos milagres da fé e à comunidade judaica Shalom, Ana Cecília, mãe da pequena
Teresa, descreve a experiência de vida que sua amada filha a proporcionou, e como
foi valiosa a passagem da criança na sua vida, apesar de muito rápida.
Em momento algum se queixa, lamenta, questiona a
meterórica passagem de Teresa em sua vida, afirma também que nunca passou por
sua cabeça a possibilidade de abortar, não se deixou abater pelas dificuldades
e juntamente com sua obstetra honraram a vida humana, defenderam e protegeram
heroicamente o papel de Mãe, deixando que Teresa viesse ao mundo e fizesse
feliz todos que a conheceram.
Abaixo, o depoimento de Ana Cecília[2]:
“Quanto tempo uma vida
precisa ter em “tempo de existência” para ser respeitada e considerada
vida?
***
No Ano Jubilar, festa da encarnação
do Verbo, de contemplação dos mistérios da vinda de Jesus ao mundo, ela foi
concebida. Um casal amigo dizia: “É o bebê do Jubileu!”
Éramos uma família de
três filhos: Ana Karine, Felipe José e Maria Clara, em março de 2000, Maria
Tereza foi concebida. Grande foi nossa alegria por saber que teríamos mais um
filho. Um exame de rotina solicitado no início do terceiro mês pela obstetra
revelou que o bebê tinha uma má formação grave denominada de anencefalia
(ausência de cérebro).
A literatura médica diz
que as crianças anencéfalas sobrevivem horas ou no máximo um a dois dias. Ouvindo
o médico falar o diagnóstico, eu repetia no meu coração: “Tu só sabes amar,
Senhor; Tu me amas e eu te amo; Jesus e Maria, amo-vos! Salvai almas!”
Imediatamente senti o mergulho na graça de Deus que me sustentava e me amparou
até o fim. Meu único lamento foi: por que tão pouco tempo, por que somente nove
meses? E nisso fui atendida! O Senhor nos deu a sua presença durante treze
meses.
Em nenhum momento pensei
em não tê-la comigo. Enquanto muitos médicos recomendam o aborto para esse
caso, minha médica, Dra. Francy Emília Moura, honrou sua profissão, zelando
pela vida. Acolheu-nos, fazendo tudo para que a gravidez fosse a mais tranqüila
possível.
E assim aconteceu!
Uma amiga e irmã, três
dias depois que tomei conhecimento do problema, disse-me que estava fazendo a
consagração a Nossa Senhora e que, todas as noites, ficava por volta de duas
horas aos pés de Maria, venerando-a, amando-a.
Numa dessas noites, ao
adormecer, sonhou comigo: “Tive um sonho lindo com você, Aninha! (ela apenas
sabia que eu estava grávida). Sabe aquele ícone em que Maria está com as mãos
levantadas ao céu, e o menino Jesus está na sua barriga?!
No sonho, Maria se
apresentava como nesse ícone, ela vinha em sua direção, baixava as mãos, tirava
o menino Jesus da barriga dela e colocava na sua! Foi lindo! Você leva Jesus na
sua barriga”, disse ela.
Que consolo senti no meu
coração nesse momento! Era Jesus! Minha dor lentamente se convertia em oferta
de amor por todos os homens, pela minha família, pela minha comunidade, por
todos que, doando suas vidas, me formaram na vocação Shalom, sendo exemplo de
fé e esperança no Deus Vivo.
Desejo com você, que lê
meu testemunho, contemplar os mistérios da vida de Jesus em Maria Tereza. Nós,
servos inúteis, apenas fomos obedientes à Mãe Igreja, cumprindo nossa missão de
família cristã, guardando, revelando e comunicando o amor como um reflexo real
do amor de Deus pelos homens e de Cristo por sua Igreja.
Tereza deve nos
emocionar, deve calar nossas dores, deve nos levar a lutar pela vida. Ela, com
seu corpinho frágil, ao nascer chorou, chorou forte! Era um belo dia de
domingo do Advento, o domingo leatare, o dia da alegria pelo menino que vem a
nós: JESUS. Imediatamente foi batizada, seu caso foi considerado muito grave.
Obrigada, Senhor, por a haveres
criado! Só alegria brotava dentro do meu coração! Um mistério de amor!
Passamos 19 dias no
hospital. Uma pequena membrana cobria a parte superior de sua cabeça, qualquer
impureza seria fatal para ela. Tereza queria viver! Era alimentada por sonda (posteriormente
mamou e tomou leite na colherzinha) e tomava remédios contra a infecção.
No vigésimo dia, levamos
nossa filha para casa. Que surpresa, que alegria! A febre havia cedido, mas
depois de uma semana retornou e com muita intensidade. Ajoelhei-me ao lado do
berço e disse: “Minha filha, não vá agora, precisamos de você mais um pouco
conosco”. E Maria Tereza viveu 103 dias.
Interessante que, no
início de minha gravidez, tive um pequeno sangramento, e eu dizia com
convicção: “Esta criança quer viver, ela vai viver”. Maria Tereza não desistiu
de sua existência, sua vida exalava o perfume dos santos. Viveu a santa
violência do Evangelho: Sim, Pai, é difícil, mas eu desejo, eu quero, eu vou!
Deus realizou algo tão
profundo dentro dela que, apesar de sua limitação, sua vida anunciava e
denunciava que a vida vale a pena ser vivida em sua plenitude, mesmo que as
maiores e mais sinceras justificativas digam que não. Quem somos nós para
arbitrar no sagrado dom da existência? Aborto! Palavra tão atroz, manipulada
pelo egoísmo dos homens. Senhor… ensina-nos a amar e ser amor uns para os
outros.
Maria Tereza foi amada,
respeitada em sua alta dignidade de filha de Deus. Amei-a com todas as minhas
forças, tão profundamente que não tenho palavras para expressar.
Amei-a como ela era, não
querendo que fosse outra pessoa, mas ela, o ser dela, a alma dela, o corpo
dela. Graça! Tudo é graça!
Como um grande sinal de
unidade do céu com a terra, Maria Tereza nasceu num dia 17, o dia da páscoa do
nosso irmão Ronaldo e faleceu num dia 29, o dia da páscoa do nosso irmão
Carlos.
Eles são dois jovens da
Comunidade de Vida Shalom que deram a vida pelo Evangelho, a fim de que o
Shalom do Pai seja vivido no coração dos homens. A pequena Tereza é mais uma
intercessora que nos foi dada para que possamos fielmente cumprir nossa missão.
Maria Tereza viveu o que
disse Jesus: “Chegou a hora, Pai, de tu glorificares a tua filha”. E ela foi
glorificada pelo Pai, a vitória do amor se fez presente dia-a-dia no seu ser.
Em sua páscoa, seu corpinho já sem vida atraía o olhar de todos, atônitos
diante de sua beleza. Era a glória de Deus nela.
Uma amiga me confidenciou
alguns dias após sua páscoa: “Ana, desculpe-me, mas quando cheguei ao velório e
a olhei, pensei: Meu Deus! Colocaram uma boneca de porcelana no lugar da neném.
Tal era a claridade de seu corpo”. Um mistério!
Deixemos o Evangelho
saltar em nós, suas letras pularem em nosso coração: Vida! Vida! Ele é Vida! Um
milagre! O Amor salva! Ó Abismo da riqueza, abismo da sabedoria de Deus, quão
insondáveis são os teus caminhos e impenetráveis os teus pensamentos!
Tereza foi concebida na
Quaresma, nasceu no Advento e foi para o Pai na Quaresma do ano seguinte. Um
ano de bênçãos vivemos ao seu lado. Hoje somos uma família mais feliz, fomos
tocamos pela dor e pelo amor.
Um dia me perguntava por
que Jesus passou ainda quarenta dias com os seus, após sua ressurreição. E,
olhando para minha filha, pude compreender que aqueles a quem Jesus amava
precisavam experimentar concretamente o poder da ressurreição, a graça do amor
gratuito, assim como eu experimentei nos dias em que Maria Tereza passou entre
nós.
Sinceramente, agradeço a
todos que rezaram por nós e foram presença da misericórdia do Deus Justo.
Avancemos livremente no amor, pois só ele permanece!
O depoimento de Ana Cecília é comovente, ela melhor
do que ninguém pode descrever e afirmar o quão é valiosa a experiência de vida
que é ter um filho ou filha anencéfalo, ela descreve com emoção e com louvor o
tanto que sua filha fora amada e respeitada,
não só por ela e por seu marido, mas também por todos que a conheceram.
Fragilidade, poucas horas de vida, estado
psicológico da mãe e riscos de gravidez não podem ser argumentos favoráveis ao
aborto de anencéfalos, a vida é bem constitucionalmente garantido a todos os
seres humanos e não pode ser facultada ou submetida a vontade da genitora por
um órgão colegiado que nada sabe do real sentido e valor que possui o título
MÃE.
Em trecho de seu depoimento Ana Cecília diz:
[...] Deus realizou algo
tão profundo dentro dela que, apesar de sua limitação, sua vida anunciava e
denunciava que a vida vale a pena ser vivida em sua plenitude, mesmo que as
maiores e mais sinceras justificativas digam que não. Quem somos nós para
arbitrar no sagrado dom da existência? Aborto! Palavra tão atroz, manipulada
pelo egoísmo dos homens. Senhor… ensina-nos a amar e ser amor uns para os
outros. [...]
Neste trecho ela afirma que a vida vale a pena ser vivida, a vida é feita de
dificuldades, de obstáculos, de impedimentos que muitas vezes eliminam a
possibilidade de um sonho ser vivido, temos que acreditar que a vida vale a
pena ser vivida em sua plenitude. E que dificuldades só engrandecem as
vitórias.
Já imaginou se Graham Bell tivesse desistido
na primeira dificuldade? O que seria da comunicação, o que seria da vida humana
sem o telefone para comunicar-se? Sobreviveríamos apenas com os sinais de
fumaça?
Se os médicos não estudassem e não aprimorassem
seus conhecimentos o que seria da saúde e da vida humana? O que seria das
pessoas se elas não pudessem curar suas enfermidades?
O elo de ligação que há aqui é a importância que existe
por trás de uma dificuldade, se há dificuldade há que se persistir, insistir,
pois essa dificuldade pode ser a porta para um grande feito, para o nascimento
de um grande ser que colaborará para a evolução da vida na terra, seja na
medicina ou na evolução dos seres humanos como pessoas.
Uma verdadeira mãe ama, cuida, protege e aceita seu
filho seja em que circunstâncias for, o famoso AMOR DE MÃE é referência de amor
incondicional, absoluto que é capaz de passar por cima de todas as dificuldades
em nome de um filho.
Então por qual motivo, um órgão colegiado se acha
no direito de atribuir faculdade de abortar ou não a uma mãe, pelo simples
motivo de seu filho ser portador dessa deficiência, dessa má formação chamada
anencefalia?
Isso, a meu ver, configura de pronto um homicídio
duplamente qualificado, ao passo que o ato cometido, qual seja o aborto, é
desferido contra pessoa impossibilitada de defender-se e por motivo torpe, pode
parecer estranho ou absurdo, mas não é.
Como se defenderia uma criaturinha que ainda nem
nasceu? Que ainda não sabe de nada, não sabe ao menos o que seja vida? Qual mal
faria a outra pessoa, um bebê que por motivo genético já está condenado
naturalmente a morte?
Essas são perguntas que me desorientam, que me
deixam estarrecida com o egoísmo humano, me deixam perplexa com o grau de
frieza que uma “pessoa” pode tratar a vida de seres indefesos.
O anencéfalo no período de gestação e depois dele
faz da sua mãe e do corpo dela a primeira forma de proteção, usa o útero de sua
genitora como santuário, como criadouro e, pensando bem, é exatamente essa a
função do útero, acolher, formar, desenvolver e depois entregar ao mundo um
bebê que dali por diante fará parte do futuro dele.
Alguns alegam que o fato de uma mãe saber que terá
um filho anencéfalo a deixa psicologicamente perturbada, triste em saber que
seu filho após nascer passará ao seu lado poucas horas ou dias e depois terá
que partir.
Outras pessoas alegam que a própria natureza já
fora dura demais dando a futura mãe um filho condenado a morrer, mas isso é um
absurdo, pois todos os seres humanos nascem condenados a morrer, não sabendo,
portanto, o dia, hora e de que forma ocorrerá.
Os bebês anencéfalos estão predestinados a morrer,
tendo como expectativa de vida poucas horas ou dias, porém há casos comprovados
de que isto é um mito, pois já fora registrados casos de anencéfalos que
viveram mais de um ano.
Outros dizem que um bebê anencéfalo não vive,
apenas vegeta pelo simples fato de serem limitados de desempenhar algumas
atividades que um bebê saudável faz.
E dizem ainda que não possuem vida digna ou que não
são pessoas normais, mas como explicar o fato de que eles reconhecem a voz
materna, reagem a cheiro, gosto e gestos de carinho? Eles na qualidade de seres
humanos têm o direito de viver.
A vida por si só já é digna, é um dom dado por Deus
às pessoas para que elas propaguem o bem, a fé e vivam na sua presença
convivendo de forma harmoniosa uns com os outros, tratando-se de maneira igual
e respeitosa.
Porém não é
mencionado por ninguém que não são os bebês que escolhem ser concebidos assim,
não escolhem essa má formação, portanto se suas vidas são concebidas assim
mesmo, é mais do que justo e de direito que se permita o nascimento dos
anencéfalos.
Aos olhos da medicina os “motores” do corpo humano
é o cérebro e o coração, se um bebê consegue nascer e viver não importando o
tempo, sem o cérebro ou apenas com parte dele esse nascimento não pode ser
denominado de outra forma que não seja MILAGRE.
2 Anencefalia e casos concretos
Além do caso de Ana Cecília, mãe de Teresa há
outros pais de anencéfalos que são totalmente contra a decisão do STF e que
recorrem a blogs para dar seu testemunho de experiência de vida e para alertar
as mulheres que já foram, que são e aquelas que serão mães de anencéfalos para
que não cometam o erro que algumas já cometeram.
Em um artigo publicado no site Portal da Família Paulo Tominaga[3],
descreve também sua indignação e diz:
Após ter
um filho anencéfalo no ano passado, é com pesar que vejo como o tema tem sido
tratado desde a recente decisão de um dos ministros do STF, na qual se assegura
às mães o direito de dispor da vida daqueles que venham a gerar. É interessante
notar como apenas de modo passageiro se faz referência a estas pequenas
pessoas, ficando a tônica da discussão sobre um tal ''direito à liberdade de
escolha'' dos adultos envolvidos no caso. Como se a gravidez correspondesse
apenas a uma vida - a da mãe -, podendo prescindir da existência do filho.
Este
enfoque parece ilustrar como o egoísmo impera em nossa sociedade. Sempre tinha
ouvido falar no amor da mãe por seus filhos como o mais excelso tipo de amor
possível. E desde os antigos gregos, este costumava ser indicado, para todos,
como um ideal a ser alcançado, na relação com os demais.
Hoje, o
que parece preponderar como meta é outra espécie de ''amor'', verdadeiro culto
religioso, por uma triste caricatura de ''liberdade'', entendida como absoluta
falta de compromissos. Não mais se aceita, nem mesmo, o compromisso de se
preservar a vida de um filho, se este não puder corresponder às expectativas de
seus pais ou - o que é pior - da maioria da sociedade.
Neste
quadro, fica claro que, para alguns, só se tem filhos para uma satisfação da
auto-estima, como parte de um projeto pessoal ou para que possam, de certa
forma, ''divertirem-se'' com as crianças, utilizando-os, como se fossem um
objeto qualquer. Se não há a perspectiva de que uma criança venha a
proporcionar alegrias aos pais, então é melhor descartá-la o quanto antes - no
ventre da mulher, de preferência -, pois assim termina logo esta existência
''insuportável e sem sentido''!
Uma
pessoa não pode ser eliminada simplesmente porque não é como nós gostaríamos
que fosse. Criam-se teorias e mais teorias para tentar encobrir o óbvio: está
se matando uma pessoa, em nome de se ''eliminar os terríveis sofrimentos,
verdadeira tortura'', que sua existência causa a sua mãe, a seu pai. Além do
mais, dizem, esta criança está condenada à morte, de qualquer forma. Assim,
apenas se está antecipando aquilo que naturalmente iria ocorrer em pouco tempo.
Amigos, a
criança já terá uma vida breve. Que saibamos respeitá-la. Posso assegurar, por
experiência própria, que este caminho conduz a um crescimento grande no amor
entre os cônjuges, e na capacidade de se doar aos demais filhos. Filhos que
virão, com certeza, como veio para nós neste ano o pequeno Rafael, talvez a
demonstração mais palpável de que não há qualquer ''trauma'' no caso, se os
pais souberem agir com serenidade.
Se
realmente desejam ajudar aos que passam por tais situações, saibam tratar do
tema com um enfoque prático que não distorça a realidade mais óbvia, querendo
criar teorias para esconder uma vida ou afirmar cegamente que este filho nunca
existiu. O problema de saúde, a má formação da criança, é um fato que
atualmente não se pode reverter. A questão não está apenas no que se deve fazer
durante a gestação.
O grande
problema, para os pais - e para a mãe, em especial - é como lidar com o fato
ocorrido, depois de este período ter acabado. Porque não é possível se esquecer
de um filho: ficará para toda a vida a recordação destes dias. E então, ou a
mãe irá se lembrar de que, não podendo ajudar seu filho, matou-o, porque ele
não era nem poderia vir a ser como se desejava que ele fosse; ou irá se
lembrar, com carinho e ternura, de que seu filho, que teve uma breve
existência, foi sempre amado e respeitado.
Amem seus
filhos. Garanto que vale a pena.
É claramente notória a insatisfação de Paulo, mas é
clara também a sua certeza de que ter um filho anencéfalo não implica em
sofrimento, traumas ou dores, não causa nenhum transtorno e muito menos tristeza
para os pais que sabem agir com serenidade, com maturidade e principalmente
amor.
Um bebê anencéfalo já nasce com limitações e sua
vida é dotada de cuidados especiais, sua vida já é predestinada a ser curta
então que ao menos a respeite, deixe-a ser vivida ao máximo, temos que dar a
esses bebês a chance de serem amados e de despertarem o amor que há nos
corações petrificados de muitas pessoas.
Mais outro caso registrado que vai de encontro àqueles
que fazem apologia ao aborto, é o caso da pequena Marcela de Jesus Ferreira que
nasceu no dia 21 de novembro de 2006 e morreu no dia 1 de agosto de 2008. Um
ano, oito meses e 12 dias, esse foi o tempo de vida da pequena Marcela, pouco
tempo para alguns, mas para sua mãe foi o tempo necessário para torná-la uma
pessoa mais próxima de Deus e do amor.
Este fato aconteceu em São Paulo, na cidade de
Patrocínio Paulista, durante o velório da pequena Marcela, por onde passaram
1.500 pessoas, a mãe emocionada disse:
“Posso estar tranqüila assim, mas que eu
estou sofrendo, estou. Mas eu fiz a escolha certa. Eu deixei ela viver o tempo
dela. O tempo que Deus permitiu que ela vivesse. Chegou o momento. Ele me deu
uma jóia, um diamante para eu cuidar e eu cuidei até quando Ele veio buscar.”
– Cacilda Galante
Ferreira, agricultora, mãe
de Marcela de Jesus Ferreira, durante o velório da filha anencáfala (sem
cérebro) nascida em Patrocínio Paulista (SP).
Em seu artigo
publicado no Portal da Família,
Eduardo Gama[4] menciona
o caso da pequena Marcela de Jesus quando ainda estava com oito dias de
nascida, assim sobre o já cogitado aborto de anencéfalos, ele diz:
Enquanto
escrevo este artigo, Marcela de Jesus Ferreira está com oito dias de vida.
Deve-a a sua mãe, Cacilda. A filha tem anencefalia e está com os dias contados
desde a gestação, mas a mãe jamais cogitou abortar.
Os
"bem pensantes" promotores do aborto dizem que carregar um bebê
nestas condições é um sofrimento e, segundo esse ponto de vista, inútil, como
todo sofrimento. Ao jornal Estado de São Paulo, Cacilda declarou:
"Sofrer a gente sofre, mas ela não pertence a mim, mas a Deus, e eu cuido dela aqui".
"Sofrer a gente sofre, mas ela não pertence a mim, mas a Deus, e eu cuido dela aqui".
Profunda frase de uma agricultora, mostrando
que a sabedoria é um dom, não uma erudição. Profunda porque sabe que a vida não
se encerra com a morte, pois diz "eu cuido dela aqui" e sabe que a
sua vocação materna a impele a cuidar de Marcela "aqui", na Terra.
Entende que a filha morrerá, mas "ela pertence a Deus" e a ele
voltará.
Enquanto
isso, Cacilda faz o que toda mãe que ama faria, amamenta, cuida e diz que
"cada segundo dela é precioso para mim". Afinal, quem ama fica feliz
com a existência de quem ama, não importa em quais condições e
por quanto tempo, apenas sabe que dedicará a sua vida para cuidar daquela outra que lhe foi confiada: "Considero a vida dela até agora um milagre muito grande e vou ficar aqui até Deus achar que é a hora dela partir", falou ao jornal a mãe.
por quanto tempo, apenas sabe que dedicará a sua vida para cuidar daquela outra que lhe foi confiada: "Considero a vida dela até agora um milagre muito grande e vou ficar aqui até Deus achar que é a hora dela partir", falou ao jornal a mãe.
Em sua
simplicidade, Cacilda sabe que um ser humano não é um amontoado de células manipuláveis
em laboratório ou alguém que pode ser morto para "não causar
sofrimento". Sofrer, todo mundo sofre e sofre, às vezes, muito.
Contudo,
como Platão diz pela boca de Sócrates no dialogo Górgias, pior não é sofrer um
mal, mas causá-lo, não é ser vítima, mas algoz, pois quem comete o mal se
transforma naquilo que comete, enquanto quem sofre o mal, tem a chance de
engrandecer-se, como próprio Sócrates ao ser obrigado a tomar cicuta.
Como não
tenho a simplicidade de Cacilda, citarei mais exemplo literário. No genial
livro "Os irmãos Karamazov", Dostoievski descreve três irmãos
separados na infância e que se reencontram quando estão todos na casa
dos vinte anos. Dimitri é um sentimental que sabe não ser uma boa pessoa, mas não consegue evitar seus erros, Aliocha, o mais novo é uma boa pessoa, ainda ingênua, mas luta pelo bem e Ivan é inteligente e revoltado.
dos vinte anos. Dimitri é um sentimental que sabe não ser uma boa pessoa, mas não consegue evitar seus erros, Aliocha, o mais novo é uma boa pessoa, ainda ingênua, mas luta pelo bem e Ivan é inteligente e revoltado.
Um fato
importante para a narrativa é a ação de Ivan. Ele não comete crime algum, mas
alicia um empregado da casa a cometê-lo. Com argumentos "intelectuais"
impele um pobre homem ao mal, revelando assim o seu ódio.
Contei
toda essa história porque penso que aqueles que com todo o conhecimento médico
e mesmo perante casos como esse defendem o aborto, parecem-me comportar-se como
Ivan.
No ano
passado, uma mãe foi autorizada a fazer o aborto de um bebê anencéfalo. Disse o
juiz: "gestação infrutífera ora impugnada trará riscos à própria saúde da
gestante, que poderá sofrer por toda sua vida dos danos, senão os físicos, dos
prejuízos psicológicos advindos do fato de carregar nove meses criança em seu
ventre fadada ao fracasso" (Folha, 23/12/2005).
O beato e Papa João
Paulo II, uma vez disse:
Por
acaso, o mandamento “Não matarás” prevê alguma exceção? O aborto é uma
autorização dada a um adulto, pela lei instituída, para privar da vida um ser
humano não nascido e, por isso, incapaz de defender-se. É difícil pensar numa
situação mais injusta.
Não restam dúvidas
de que os argumentos adotados por aqueles que são favoráveis ao aborto estão
completamente derrubados, passíveis de completa abominação, pois matar uma
criança que ainda nem nasceu por puro egoísmo é no mínimo uma atrocidade, uma
maldade sem tamanho e desprovida de propósitos.
3 Argumentos Jurídicos contra o aborto
Direito à vida é um
bem constitucionalmente garantido, é também cláusula pétrea sendo, portanto,
imutável, indestrutível e inquebrável.
Corroborando este
pensamento a advogada Simone Marcussi[5]
expõe seu pensamento:
O direito
à vida, conforme reza a Constituição Federal, antecede todos os outros não
podendo ser minimizado por um direito subjetivo da mãe que enseja abortar. Vale
lembrar ainda que o artigo 4º do Pacto de São José da Costa Rica, do qual o
Brasil é signatário, assegura o direito à vida desde a concepção e tem força de
emenda constitucional imutável, cláusula pétrea. Também o artigo 2º do Código
Civil dispõe que “a lei põe a salvo dos direitos do nascituro desde a concepção”.
A questão
da anencefalia desdobra-se também sobre a hipótese de não haver expectativa de
vida da criança, ou seja, vida em potencial. Ora, expectativa ou probabilidade
de vida há, curta, mas há.
Outra
questão se depreende do fato de que há entendimentos no sentido de que o feto
portador de anencefalia não é considerado vivo por não ter o cérebro totalmente
formado o que não configuraria ilícito penal a prática do aborto, uma vez que
este consiste na cessação da gravidez de um ser humano vivo. Mas seria correto
afirmar que um bebê apesar de anencéfalo, mas cujo coração e respiração
funcionam independentemente de meios artificiais, esteja morto?
Outro
argumento é o de que o bebê com a referida anomalia mantém-se vivo somente às
custas do organismo materno. Mas o corpo da mãe é essencial até mesmo para
fetos sadios e perfeitos manterem-se vivos até o nascimento. E a anencefalia
não é impedimento para que outras funções vitais, como a respiração e o
batimento cardíaco, permaneçam ativas ainda que por pouco tempo após o parto.
Outra
questão que se aborda é a da morte cerebral, que não se confunde com a
anencefalia. Equiparando-as, como tem sido feito neste caso, peca-se por
desconhecimento, já que na primeira as funções vitais não se prorrogam a não
ser por meios artificiais.
Na
segunda, aquelas funções podem ser mantidas ainda que por pouco tempo depois do
nascimento ou mesmo por dias e meses. Há estudos que tratam de casos menos
críticos que possibilitam ao anencéfalo condições primárias sensoriais e de
consciência. Isso seria possível devido à neuroplasticidade do tronco cerebral.
Em se
tratando do preceito constitucional da dignidade da pessoa humana este nada
mais é do que o direito à assistência para manter uma vida digna até a morte
inevitável. Este princípio não está sujeito à concepções subjetivas. Portanto,
qualquer outro conceito de dignidade que não seja aquele mencionado consistirá
em ardilosa tentativa de adaptar o princípio fundamental às conveniências
pessoais.
Em que
pese o sofrimento dos pais que sabem da curta sobrevida do seu filho, não se
pode ignorar que o direito à vida inerente à criança não está condicionado à
vontade de seus genitores. E amar um filho independe de sua perfeição física ou
do tempo em que ele viverá.
Ainda que
o feto tenha vida curta, ainda que os pais sofram por isso, viver é um direito
inviolável. Cabe a pergunta: quando se sofre mais? Quando se gera um filho
defeituoso cuja morte será natural ou quando se mata esse filho por sua própria
vontade trazendo consigo além da dor da perda a dor do remorso?
A dúvida que este
artigo remete é bastante conveniente, quando se sofre mais, ao receber um
diagnóstico de anencefalia ou ao receber tal diagnóstico decide-se de imediato
acabar com aquela vida ainda tão frágil?
O que não se pode
aqui é sustentar um crime em meras especulações. O tempo de vida que um bebê
anencéfalo pode viver é um fator quase que incalculável, pois a ciência estima
que um bebê com esse problema pode viver apenas horas ou no máximo poucos dias,
mas o que essa mesma ciência diz quando estes mesmos bebês vivem anos?
Resta provado aqui
que o fator vida curta não pode
servir de base para a opção do aborto. Dignidade da pessoa humana, um princípio
constitucional que tem a função principal de defender e assegurar a vida às
pessoas, hoje em dia é usado como base aliada aos defensores do aborto de
anencéfalos.
Pessoas que
defenderam a vida, hoje defendem e propagam a prerrogativa do aborto, isso é um
absurdo jurídico, é uma aberração e uma afronta aos direitos dos seres humanos,
cadê a dignidade inerente a pessoa humana? Cadê o direito de ter vida digna?
Vida digna é toda aquela existente, é toda aquela que pode ser aproveitada.
A vida de uma
pessoa não pode ser valorada pelo número de dias que viveu ou que venha a viver,
mas sim pela importância de sua existência, pelo bem que proporcionou com seu
nascimento e simplesmente pelo fato de ter existido.
4 O aborto dos anencéfalos
Esta é uma questão
já debatida há alguns anos e que se tornou mais acirrada após a decisão do STF,
decisão esta que deu faculdade as mães de anencéfalos de abortarem pelo simples
fato de ser diagnosticada a anencefalia.
A respeito disso o
professor Marcelo M. Seneda[6],
corrobora:
Nos últimos dias temos
visto à nossa volta uma grande polêmica: a questão do aborto dos anencéfalos.
Diversos núcleos apresentam argumentos prós e contras, em uma discussão
extremamente importante, pois se trata de tornar institucional a decisão sobre
a continuidade ou não de um evento referente à vida.
Considerando o parecer
francamente favorável do Ministro da Saúde ao aborto, tenha o feto encéfalo ou
não, causa-me preocupação alguns argumentos mencionados pelos grupos
pró-aborto. Vou abrir um parêntesis, para enfatizar o uso do termo "aborto",
pois considero um eufemismo essa recente substituição por "antecipação
programada do parto".
Pois bem, os grupos
pró-aborto enfatizam o sofrimento da gestante de um feto anencéfalo, alegando
uma 'agressão à dignidade da pessoa humana'. Seguramente essas mães sofrem e a
preocupação com o sofrimento alheio é sempre meritória. No entanto, pergunto:
qual mãe não sofre por seus filhos? Sofre mais a mãe cujo recém-nascido vem
óbito em um curto período, ou aquela mãe que vê seu filho morrer lentamente,
nos descaminhos da droga? Sofre mais a mãe cuja gestação enfrenta sérios
riscos, ou aquela mãe que vê seu filho, saudável e bem-formado, contrair uma
doença causada pela falta de saneamento básico?
Aliás, é possível
mensurar o sofrimento?
Há outro aspecto muito
sério. Os atuais recursos diagnósticos permitem a identificação de centenas de
alterações durante a vida fetal. Síndromes diversas podem ser diagnosticadas
relativa segurança. Então, depois do anencéfalo, qual será a próxima alteração
fetal a justificar o aborto?
Isso me traz à mente
qualquer coisa de "pureza racial" enrustida. Saber da surdez,
cegueira, agenesia de membros, retardo mental, intersexualidade etc. não são
situações capazes de causar sofrimento nas mães e pais, de "agredir a
dignidade da pessoa humana?" Mas o mundo hoje tem se empenhado tanto na
inclusão dos portadores de necessidades especiais, então como estabelecer quais
anomalias podem ou não ser mantidas durante a gestação?
A ação pró-aborto é
movida por um sindicato ligado aos profissionais da saúde. Fico surpreso com
isso, seria de se esperar ações pró-vida dessas pessoas. Algo como cobrar do
Ministério mais investimentos no diagnóstico precoce de anomalias embrionárias
e fetais.
E incentivar pesquisas
para, a partir do diagnóstico, haver medidas capazes de atuar na ativação ou
repressão dos genes responsáveis por tais alterações. Afinal, a seqüência
gênica não pode ser alterada, mas a epigenética hoje nos mostra ser possível
modular a ação dos genes. Gostaria de ver o Ministro defendendo mais recursos
para a Saúde, eliminando doenças vinculadas à falta de saneamento básico.
Gostaria de ver os
profissionais desse sindicato promovendo uma educação de qualidade aos jovens e
adolescentes, para permitir o exercício da sexualidade de maneira saudável e
equilibrada.
Finalmente, enfatizo
minha estranheza à afirmação do Ministro, afirmando uma acurácia de 100% no
diagnóstico da anencefalia. Em geral, os profissionais das ciências da vida
evitam sistematicamente o "100%", porque todos os dias somos surpreendidos
com fatos inesperados. Mais ainda, me recordo de um fato amplamente noticiado
pela mídia há alguns anos.
Por apresentar aumento de
volume abdominal, dor e náuseas, uma mulher recebeu o diagnóstico de um tumor
maligno, confirmado por ultra-sonografia. Meses de angústia depois, o suposto
tumor "se transformou" em um bebê saudável, após parto normal.
Será mesmo tão eficiente
assim o nosso atual sistema de saúde?
O argumento sofrimento alheio só leva em
consideração a mãe, o que a mãe sente durante a gravidez, o que a mãe sente no
momento do diagnóstico, porém nunca é levado em consideração a criança
indefesa.
Mais uma vez volto
ao “incondicional” amor de mãe, nessas horas onde ele se esconde? Por que aqui
o que prevalece é o egoísmo e não o amor materno? Quer dizer então que algumas
mães não amam seus filhos do jeito que eles são? Então quer dizer que o excelso
amor de mãe possui níveis, graduação ou colocação? É intrigante.
O anencéfalo aqui quase
tratado como uma “coisa” é como se esse pequeno ser fosse um objeto de uma
transação comercial, um objeto de contrato que se não estiver em perfeitas
condições não pode vingar, não pode continuar a existir, estes bebês estão
sendo tratados como os escravos nos tempos da sofrida escravidão.
Eram tratados como
mercadorias, e se também não estivessem em perfeitas condições não eram
vendidos, e se não fossem vendidos eram mortos.
Cito também a
adoção como um fator de discriminação e de completo desrespeito, um preconceito
que se assemelha ao vivido pelos bebês anencéfalos, nas enormes filas de
adoções espalhadas por todo o mundo, qual a preferência das famílias? Bebês de
no máximo dois anos de idade, loiro, de olhos azuis e que se encontrem em
perfeito estado de saúde.
E as outras
crianças? Vivem nos orfanatos desprezadas até que completem a maioridade para
depois serem quase que expulsas do orfanato ou ONG’s, pois na maioria desses
estabelecimentos não podem ficar os maiores de idade.
5 O STF e a permissão ao aborto: afronta
constitucional
É, no mínimo, uma
pesada afronta à constituição a decisão proferida pelo STF, um órgão colegiado
que possui como dever natural a proteção à Carta Magna de 1988 e ao ordenamento
jurídico como um todo, profere decisões a próprio gosto deixando de ser
guardião e parte da constituição federal e passando a ser autônomo, como se
sozinho pudesse ser a própria constituição.
Em colaboração com
este pensamento, escreve Ives Gandra[7]:
Estou convencido - apesar de ser eu um modesto advogado de província e
ele, brilhante guardião da Constituição - de que a decisão é manifestamente
inconstitucional. Macula o artigo 5º da lei suprema, que considera inviolável o
direito à vida.
Fere o § 2º do mesmo artigo, que oferta aos tratados internacionais que
cuidam de direitos humanos a condição de cláusula imodificável da Constituição.
Viola o artigo 4º do Pacto de São José, tratado internacional sobre direitos
fundamentais a que o Brasil aderiu, e que declara que a vida começa na
concepção.
Juridicamente, a antecipação, pelo aborto, da morte do anencéfalo é
vedada pelo texto maior brasileiro.
Meu caro amigo Ministro Marco Aurélio - de quem divergir no episódio
causa-me profundo desconforto -, ao justificar o aborto, que é a pena de morte,
no caso do nascituro anencéfalo, por ser ele um condenado à morte, está,
também, justificando a pena de morte a todos os doentes terminais, pela
eutanásia, e abrindo a porta para o culto à raça pura, inclusive às
manipulações genéticas para que sejam produzidos somente seres humanos
perfeitos e saudáveis, e - o que é pior - valorizando a cultura da morte e não a
defesa da vida. Uma vez aberto o caminho, por ele passarão todas as teses
antivida.
Espero - pois a Constituição garante a todos os seres humanos, bem ou
malformados, sadios ou doentes, o direito à vida desde a concepção, sendo a
morte apenas a decorrência natural de sua condição e não a decorrência
antecipada de convicções ideológicas - que venha a rever seu voto, quando a
questão for levada ao plenário. Espero, também, que seus pares homenageiem a
vida, proscrevendo a morte antecipada.
CONCLUSÃO
É bem clara a indignação dos pais de anencéfalos em relação a
este absurdo jurídico, eles melhor que ninguém podem descrever qual a sensação
de se ter um filho anencéfalo, e descrevem ainda tamanha satisfação que o mesmo
os proporcionam.
A anencefalia está sendo tratando como uma verdadeira doença
contagiosa, que apavora quem a respeito dela toma conhecimento, estão votando a
favor do aborto contrariando a Carta Magna e desrespeitando os próprios seres
humanos.
A vida que é legalmente defendida está sendo resumida a
egoísmo e em grande parte a estética. Dizem defender a vida, pois ela é o maior
direito fundamental, mas estão menosprezando vidas inocentes, que não possuem
meios para proteger-se do egoísmo adulto que é na maioria das vezes advindo de
seus próprios genitores, agora apoiado por quem deveria defender a vida em
todas as suas formas.
A pessoa que deveria ajudar e proteger seu filho com todas as
suas forças, acaba de receber a faculdade de ceifar a vida de um ser que não
pode opinar, que por má formação, que diga-se de passagem não é culpa sua, já é
condenado a morte quase que sumariamente.
E agora onde fica o incondicional amor de mãe tão mencionado
e tão referenciado? Isso é algo que no momento, é para alguns, questão de
segundo plano.
Anencefalia não é uma peste, não é um vírus, não é uma doença
contagiosa e sim uma má formação genética que acomete algumas crianças fazendo
com que elas nasçam com algumas limitações.
O que não as impedem de viver mais tempo do que esperado, o
que não pode servir de base para esse descarte sumário que algumas mães vêem
fazendo com seus filhos.
No momento que o/a
obstetra dá o diagnóstico de anencefalia algumas mães entram em desespero é
como se recebessem uma sentença de morte, é como se não estivem esperando uma
criança passível de amor e carinho como todas as outras.
Anencéfalos são seres especiais enviados a terra com a missão
de dissipar o egoísmo, o preconceito, o mau-caratismo e propagar o amor,
disseminar o bem, para mostrar que são passíveis de amor, que sabem amar, que
não são inanimados, que não são fantoches, são pessoas dotadas de amor,
dignidade e humanidade.
Anencéfalos são crianças, são pequenas criaturas enviadas por
Deus assim como as outras e não podem ser tratadas de outra forma, não podem
ser alvos de discussões judiciais, não podem ter suas frágeis vidas submetidas
ao crivo de legisladores que nada sabem o que é verdadeiramente ser mãe.
Devem apenas ser recebidas com carinho, amadas e acima de
tudo respeitadas como todo ser humano deve ser, devem também ter o direito de
nascer e viver o tempo ao qual foram destinadas a viver, sem nenhum
impedimento, sem nenhuma ressalva, pois toda vida concedida por Deus é digna em
sua plenitude e tem que ser aceita e cumprida, respeitando assim a ordem
natural dos fatores da vida, seja ela em que tempo for, em que tempo se
realize, em que tempo se conceda.
Á respeito das conseqüências do aborto de anencéfalos Carlos
Dias[8],
expõe seu pensamento:
As conseqüências sociais da decisão
que admite o aborto são igualmente desastrosas, favorecendo a impunidade dos
médicos criminosos que o praticam, cujo principal argumento de defesa,
doravante, será a alegação da suposta anencefalia do nascituro, cuja
ocorrência, embora clinicamente rara, passará a ser tão corriqueira quanto as
cesarianas.
A decisão, também, nos faz refletir
sobre a relação entre a liberdade e a consciência moral. Todo ato moralmente
válido está circunscrito à liberdade do homem em realizar o verdadeiro bem. E o
bem é o valor primário a ser assumido pela liberdade como guia das decisões
humanas.
O nascituro é sujeito de direitos,
reconhecidos inclusive na recomendação 1.046 do Conselho Europeu, de 24 de
setembro de 1986.
O que ora se discute não é o inegável
drama gerado pela anencefalia, mas o grave precedente de a mais alta corte do
país, a quem caberia guardar os princípios constitucionais, autorizar a
execução de fetos sem cérebro, como se o direito à vida pudesse ser cassado por
uma ordem judicial, fato inédito que amanhã pode ensejar a aplicação de igual violência
a outras formas de enfermidade, sem que as vítimas tenham chance de defesa.
O conceito correto é o de que o
ventre materno é verdadeiramente um santuário para todos os fins e efeitos.
Nada seria mais monstruoso do que se permitir a invasão deste ambiente de
maturação da vida, para que a própria vida seja atacada no nascedouro, sendo
fatiada, aspirada e colocada no lixo, literalmente.
É assim que a vida humana merece terminar? Fatiada,
cortada, aspirada e colocada no lixo? E por quê? Por puro egoísmo, por
especulações sem sentido, por questão de estética, por padrões sociais?
Voltamos então aos tempos do Código de Hamurabi?
Voltamos aos tempos da caverna? Voltamos a ser gladiadores selvagens?
Ao invés de evolução, estamos passando por um
processo de involução, de regresso, de retrocesso, onde o que importa é a
estética, a forma física, estamos em uma época onde sentimentos estão sendo
substituídos por padrões estéticos de beleza.
Estamos em uma era onde a mecanização e robotização
estão contaminando os pensamentos humanos, crianças não podem nascer
“defeituosas”, pois se assim for diagnosticado as mães têm a prerrogativa legal
de descartar essas crianças como se elas fossem um rabisco de um projeto que
não deu certo. Lamentável.
REFERÊNCIAS
[1] Nayara Luana Holanda Cordeiro.
Acadêmica do curso de direito da Faculdade Mater Christi.
[2]
Ana Cecília Araújo Nunes
Silva, Consagrada na Comunidade de Aliança Shalom de Fortaleza, hoje
missionária da comunidade no Chile.
[3]
Paulo
Tominaga, Mestre em Ciência da Computação, engenheiro pela Unicamp, advogado,
atualmente é Consultor do Núcleo Jurídico do PRODASEN - Senado Federal. Tem
três filhos, sendo que o segundo, já falecido, era anencéfalo.
[4]
Eduardo Gama, professor de redação e literatura em Jundiaí e
Campinas. Mestres em Literatura pela USP, tradutor, jornalista
e publicitário. É autor do livro de poemas "Sonata para verso e
voz" e editor dos sites www.doutrinacatolica.com.br e www.revisaoetraducao.com.br
[5]
Dra. Simone Marcussi de
Almeida Prado - OAB 124.755.
[6]
Marcelo M. Seneda,
DVM, MSc, PhD. Professor da Universidade Estadual de Londrina com doutorado em
biotecnologia da reprodução e pós-doutorado em epigenética de gametas pela
McGill University.
[7]
Ives
Gandra da Silva Martins
é advogado e Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do
Comércio do Estado de São Paulo.
[8]
Carlos Dias é presidente do
Instituto Vida e Família
FONTE: Nayara Cordeiro, nanah_cordeiro@hotmail.com, Bacharelando em Direito, 9 Período da Faculdade de Ciência e Tecnologia Mater Christi
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